♪♫ Música de utilidade pública

A primeira gravação de um cantor norte-riograndense, em 1904, é um dos 30 mil registros sonoros que compõem o Acervo da Música Potiguar do Instituto Leide Câmara, idealizado pela pesquisadora Leide Câmara e que no último dia 11 foi reconhecido pela Prefeitura do Natal como sendo de Utilidade Pública, através da lei nº 6.116. Apesar do reconhecimento, o Instituto não tem sede fixa.

Apesar do reconhecimento oficial por parte do município, acervo musical do instituto leide câmara não tem sede própria
"Fico aguardando que o Estado ou o Município possam me ceder um espaço para abrigar o Acervo da Música Potiguar", disse Leide Câmara. Segundo a pesquisadora, o Rio Grande do Norte é o único Estado brasileiro que congrega um acervo sonoro próprio em sua totalidade.

A qualificação de Utilidade Pública garante uma identidade jurídica ao Instituto Leide Câmara, o que facilita a ampliação das atividades de preservação e ampliação do acervo. Como pessoa jurídica, o Acervo da Música Potiguar poderá concorrer aos editais de cultura e receber verba de instituições de fomento a este ramo de atividades. "Todo este acervo vem sendo construído e mantido por mim, que sou mecenas de mim mesma", disse a pesquisadora.

Assim que o AMP tiver uma sede própria, ele ficará a disposição do público, que poderá realizar pesquisas, participar de seminários e até fazer o empréstimo dos registros sonoros e escritos. Além disso, com a construção ou transferência para uma cede própria, o acervo deverá receber um armazenamento mais adequado.

O Acervo da Música Potiguar é constituído de discos em acetato, papelão, vinil de 78 rpm, compactos, LPs; fitas cassetes e de vídeo, CDs, além de livros, partituras, songbooks, fotos e jornais de época – verdadeiras relíquias datadas a partir de 1904.

São gravações de músicas nos mais diversos gêneros – modinha, valsa, toada, canção, bossa nova, samba, baião, xote, xaxado, forró, coco, repente, reggae, blues, rock e música clássica. A pesquisadora garante que o acervo abarca todos os seguimentos musicais, dos repentistas populares do interior do Estado aos músicos eruditos. "Não é feito qualquer tipo de distinção na coleta do acervo. Trata-se de registrar todas as expressões ou manifestações da música no RN."

Segundo a pesquisadora, a maior dificuldade foi decodificar os registros fonográficos sem datas, sem nome completo e muitas vezes sem autores. Foram catalogadas 30 mil músicas, que apresentavam uma ligação com o músico potiguar, sejam na autoria da letra ou melodia, na interpretação vocal ou instrumental.

Um destes registros é o potiguar Henrique Brito executando, pela primeira vez, um violão elétrico, em 1920. Segundo a pesquisadora, Henrique foi o inventor do instrumento, mas acabou perdendo o direito sobre a autoria da invenção por não ter patenteado.

Segundo o produtor cultural Zé Dias, o trabalho realizado por Leide Câmara é de fundamental importância. "Ela foi responsável pelo resgate de nomes esquecidos, como o do sanfoneiro caicoense Severino Ramos, que teve suas músicas gravadas por Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro", disse o produtor.

Além do Acervo Musical, o Instituto Leide Câmara vai abrigar um museu, com objetos ligados à música (rádios antigos, pinturas, instrumentos musicais, fotos e vídeos) e uma biblioteca. Leide Câmara já tem cerca de 4 mil exemplares de livros escritos por potiguares e outros títulos sobre a música no Brasil. Todos os itens do Acervo da Música Potiguar, os objetos que vão para o museu e os livros foram coletados a partir de 1996, quando a pesquisadora dedicou-se a confecção do Dicionário da Música do Rio Grande do Norte.

Dicionário da Música do RN

O Dicionário da Música do Rio Grande do Norte contém a memória da Música Potiguar com 600 verbetes de músicos catalogados, com discografia e musicografia. Entre eles estão Ademilde Fonseca, Aldo Parisot, Carlos Alexandre, Carlos André, Chico Antônio, Chico Elion, Dosinho, Elino Julião, Fernando Luís, Gilliard, Glorinha Oliveira, Henrique Brito, Hianto de Almeida, K-Ximbinho, Mário Tavares, Núbia Lafayette, Paulino Chaves, Paulo Tito, Raymundo Olavo, Terezinha de Jesus, Trio Irakitan, Trio Marayá, e tantos outros talentos conhecidos e desconhecidos no cenário nacional. Constam ainda trabalhos musicados de poetas, como Lourival Açucena, Ferreira Itajubá, Junquilho Lourival, Nei Leandro de Castro, Diógenes Cunha Lima, Segundo Wanderley, Auta de Souza e Zila Mamede.

O livro é resultado de cinco anos de pesquisa sobre a produção musical do Rio Grande do Norte desde o início do século 20 até abril de 2000, nos mais diversos gêneros.

Segundo Leide Câmara, a intenção de lançar o Dicionário da Música do Rio Grande do Norte era preencher uma lacuna na área de pesquisa do Estado. Antes de sua pesquisa não existia o registro de quantos músicos (compositores, instrumentistas, cantores, entre outros) existiam e onde estavam suas produções.

* Fonte: Tribuna do Norte - 15/jun/2010
Repórter: Maria Betânia Monteiro
Foto: Adriano Abreu

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