♪♫ O meu Natal em Natal

Ontem estive presente numa mesa redonda dentro da programação do SBPC. Por lá estavam outros produtores culturais da cidade além de uma plateia atenta para discutir os rumos da cultura independente em Natal. No meio do debate iniciei uma reflexão sobre aquele que pode ser o maior período cultural e festivo da cidade: o Natal em Natal.

Eu digo que pode ser, porque de fato ainda estamos longe de ter um evento que faça parte dos planos turísticos das pessoas de outras cidades. Comparando com ações culturais que participei tocando ou cobrindo esse ano, caso da Virada Cultural de São Paulo, Festival de Inverno de Garanhuns ou o Carnaval de Recife e Olinda chega a ser pífia intenção da prefeitura em tornar o mês de dezembro atrativo em termos culturais.

Isso só acontece porque a prefeitura age como se fosse dona do evento, produtora das ações e responsável direta pelo resultado dela. Alô gestores, vamos acordar. Eventos grandiosos são aqueles em que a comunidade abraça como dela, que a iniciativa privada enxerga possibilidade de lucrar, que o cidadão se sinta participando e opinando. Resumindo o papo: o Natal em Natal precisa ser das pessoas e não dos governos.

O Carnatal, um dos maiores eventos populares da cidade, só é popular como é porque as pessoas não vêem seus organizadores como donos absolutos do projeto, não tenho a conta mas acredito que nem 10% da população sabe que quem promove o evento é a Destaque Produções. Cada bloco tem suas responsabilidades, cada camarote tem sua meta própria, a prefeitura e o governo preparam a rua e incentivam no que é necessário, os hotéis fazem divulgação adicional e a população vai brincar ao som do que a maioria gosta. Pagando ou de graça! Um exemplo de sucesso em que a população abraçou o projeto como dela (sem fazer juízo de valor ou de gosto pessoal). Lógico que o Carnatal tem suas distorções, atrapalha a vida de um monte de gente ao redor da festa e poderia evoluir também.

Dito isso, acabei me pegando fazendo uma análise como seria o meu Natal em Natal e que modelo utilizaria para realizá-lo. Segue passo-a-passo as ações:

1) Pediria aos órgãos de turismo, saúde, educação e cultura envolvimento no projeto com verba direta direcionada ao evento. Estipularia com antecedência qual o montante de dinheiro público teria para o investimento nas ações do mês inteiro. Somaria todas as esferas, municipal, estadual e federal numa coisa só, costurando politicamente a ação;

2) Com a verba estipulada pediria um estudo de todos os centro culturais, teatros, casas de show, eventos, festas populares e festas religiosas que ficam abertas em dezembro e financiaria parte da programação economizando estrutura física de som e luz. Espalharia ações em toda a cidade;

3) Contataria a classe de produtores culturais da cidade através de edital (ou coisa parecida) para que fossem propostos palcos, ações, espetáculos de ocupação da cidade durante o Natal em Natal. Passaria a responsabilidade de cada ação para os projetos aprovados e fiscalizaria a realização de todos eles. Deixaria também que esses projetos tivessem autonomia para captação de recursos diretos;

4) Realizaria o Auto de Natal em forma de oficina fixa de teatro, agregada ao Departamento de Artes da UFRN e do NAC;

5) Procuraria Sescs, Sebrae, Fiern, entre outras siglas para propor programação adicional, oficinas, palestras, workshops e ações do tipo;

Acredito que essa descentralização de ações, divisão de responsabilidades, ecletismo de propostas e envolvimento maior da comunidade traria para Natal uma movimentação que despertaria interesse nos turistas e nas pessoas da própria cidade e faria com que o nosso tão sonhado evento de fim de ano se tornasse realmente relevante como a cidade merece. Sem contar que a roda da economia da cultura municipal giraria de maneira positiva e responsável.

Do jeito que está o Natal em Natal ninguém ganha. A prefeitura é criticada sempre pelo lineup ou condução das ações, a cidade não recebe o evento como deveria receber e a economia não se beneficia como poderia. Tem gente ligada a parte cultural da cidade até propondo um boicote aos festejos do fim de ano (como se a responsabilidade de propor uma mudança não fosse nossa já que o dinheiro público financia o evento). Porque não dividir as responsabilidades e os resultados?


Anderson Foca
Centro Cultural Dosol

Um comentário:

  1. por Josenilton Tavares, postado na lista da RPM9 de agosto de 2010 às 15:24

    Acrescento a proposta:

    1. Aplicar de fato o conceito de GESTÃO COMPARTILHADA, compreendida em ouvir as diferentes categorias da cidade e suas respectivas áreas para construir o modelo de política pública e seus programas e projetos;

    2. capacitar os projetos existentes para compreender melhor suas trajetórias potencializando ainda mais os objetivos e avaliando os resultados obtidos... Fundamental para verificar se os critérios foram bem aplicados.

    3. Discutir muito sobre a questão da promoção de bens e produtos culturais, abrir uma frente de diálogo com a mídia tradicional e propor metas que fortaleçam os novos nichos de promoção e difusão.

    4. Verificar o grau de integração das esferas públicas e privadas no tocante aos investimentos para a cultura, fazendo valer as Leis que estão tramitando e principalmente as sugestões que a sociedade já legitimou nos fóruns, encontros, conferências entre tantos outros eventos de discussões.

    5. Fortalecimento das políticas de estado, evitando as contrapressões partidárias e os interesses individuais e/ou corporativos que tanto atrapalham o alcance das metas.

    6. Incluir de fato a população respeitando o seu gosto, estética e encontrar caminhos para a inclusão destes novos referenciais de consumo tão visíveis a todos.

    7. Sem contar que nenhum projeto da cidade, até agora, mostrou um estudo dos impactos econômicos gerados a partir da existência de suas ações. Indicadores econômicos fundamentais para comprovar às outras áreas a importância em números, o papel da cultura como agente de desenvolvimento (quantos foram empregados, mercado informal, formal, benefícios gerados, acompanhamentos, diagnósticos, relatórios, entre tantas análises fundamentais para gerar subsídios na construção de políticas públicas para a cultura). Ou seja, o caminho é bem mais complexo. acho que avançamos e estamos no processo, precisamos sim provocar esta percepção crítica.

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