A LUTA CONTÍNUA

Bruna Garrido (foto)

A RPM (Rede Potiguar de Música) nasceu em 2010. 

O lançamento se deu na Casa da Ribeira, em evento com vários parceiros, incluindo o Sebrae e o público interessado. Sua intenção inicial era acompanhar outros movimentos que vinham se organizando no país àquela altura, para que nós potiguares não ficássemos muito isolados nessa esquina distante do Atlântico. 

Em 2011 criamos a partir da Rede a COMPOR – Cooperativa da Música Potiguar. Através dela participamos de diversas ações, dentre as quais cabe citar os shows coletivos Uníssono (cantado e instrumental), o lançamento de alguns CDs, além da realização da Semana Cultural da Música Potiguar. 

Passado todos os redemoinhos políticos e pandêmicos, cá estamos nós outra vez, acompanhando o movimento de retomada do ambiente cultural brasileiro, que vem se reconfigurando com a recriação do Ministério da Cultura e suas ramificações, embora num contexto muito desafiador e crítico ainda. 

Nessa perspectiva, realizamos no início de outubro passado a II Semana Cultural da Música Potiguar, com uma programação extensa e estratégica, iniciada com um belíssimo momento, que foi a mostra coletiva de música autoral, intitulada Rede Potiguar dá Música (Oito da Noite), no palco do centenário Teatro Alberto Maranhão, aberto à população, sem cobrança de ingresso e com a presença de alunos e professores da rede pública de ensino. Este formato traduz a proposta do Programa de Fomento à Música Autoral Potiguar, que reivindicamos para ser incorporado ao calendário cultural do RN, em programação continuada e com periodicidade definida, inserção no orçamento público e lei. 

A Semana foi continuada com oficina, com uma assembleia do Sindicato dos Músicos/RN, com uma interessante interlocução da Rede com a Escola de Música da UFRN, e fechada com o esfuziante sábado musical do Choro do Caçuá, na praça central Pe João Maria. Tudo faz parte de uma estratégica mobilização do segmento musical para um nível mais aprofundado de institucionalização de uma política pública para o segmento, pautada na autoralidade, estética e profissionalismo. 

Neste 2025 a RPM inscreve uma trajetória de 15 anos e peticiona publicamente às instituições, mesmo as do campo privado, uma experiência no sentido de um investimento no capital musical autoral potiguar. O acervo é relevante, ele apenas não se projetou tanto quanto precisa para fora, e nem para dentro (salvo algumas exceções, de Grafith a Du Souto). 

E por que não? Algumas respostas temos mais fáceis: a cadeia de rádio nos invisibilizou, e continua assim, (com uma ressalva para a FM Universitária). As outras emissoras tocam alguns artistas com quem tem seus acertos, mas a maior produção que fazemos nunca alcançou espaço considerável para ampliar o raio de divulgação necessário. A TV, pior. 

Depois, nunca fomos capazes de estruturar uma política pública para a música, mas o momento exige e é propício. Viram o que a música fez na pandemia?, lembram? Seu papel social transcende uma faixa no spotify. Ela irá repercutir na saúde pública, no fator econômico (com força), na educação em sala de aula, até numa melhor formação cidadã (a depender do seu conteúdo, claro). 

Vejamos o exemplo de Natal, a capital do RN. Realiza editais episódicos para festejos anuais (natal, carnaval, são joão). Inclusive não fez chamada pública para a programação natalina recente, dissimulando sua atuação com um cadastro anual de artistas e bandas, num processo sem clareza e muito menos objetividade e que, enfim, ... Não se admite nenhum retrocesso nessas já tão poucas iniciativas que conquistamos socialmente nos últimos anos. 

Aliás, é preciso mais. É preciso que haja um programa de fomento à música localmente, com música viva nos espaços púbicos, estímulo ao seu profissionalismo e a permanência dessa linguagem como fonte de vida e alimento para um contingente de seres humanos que se dedicam integralmente a este trabalho. Que isso seja possível aqui, em SonGA, em Parná, em Extremoz, em Currais, em Patu, em cada lugar. 

As leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc mostram em números o que dá pra fazer. Embora os gestores ainda estejam apanhando muito, se percebe muito mais trabalho na ponta, com razoável penetração nas comunidades e setores historicamente excluídos. 

Não podemos residir nesse atraso. É inegável que precisamos de projetos nessa área, com urgência. A música é um setor artístico culturalmente muito relevante para o nosso povo, para qualquer povo, na verdade. Mas é muito negligenciado pelo estado brasileiro, em todos os níveis. O Rio Grande do Norte se ressente desse descaso, sem desenho político estruturado para uma cadeia tão produtiva. Qual é o papel de um Dorgival Dantas como embaixador apenas decorativo de uma interlocução com a música, que na verdade nunca existiu na direção dos seus autores? Atendem mais a uma indústria do que propriamente às necessidades que temos de fato, não? 

Até mesmo no contexto nacional, a música recebe uma divisão na Funarte, incapaz de gerir todo o potencial que oferecemos ao país. Há em movimento uma proposta unificada no Brasil pelos músicos organizados: a criação da Agência Nacional de Música e um fundo setorial, que viabilizem uma cadeia estruturante para proporcionar à música brasileira a visibilidade que ela merece, interna e externamente. 

Que este ano novo reforce a nossa luta em busca desses objetivos e nos permita caminhar numa plataforma mais justa para os que exercem essa atividade profissional tão singular, e cada vez e sempre mais importante para o mundo.

Esso Alencar
cantautor
autoprodutor
ativista cultural

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