O Fórum Nacional de Música (FNM) é o embrião das
diversas formulações que se deram na política pública para o segmento, com
atuação mais acentuada durante o exercício de Gil no MinC. Continuada, sua
articulação levou ao plenário da 4ª Conferência Nacional de Cultura, em março
passado, a proposta da criação de uma agência nacional para a música
brasileira.
A proposição nasceu justo dos documentos resultantes
de todo o processo que se deu na primeira década do século - calendário que se
extraviou na segunda, mas reaberto agora, meados atuais - , constante nos
relatórios que idealizaram o Plano Setorial de Música, construído a muitas mãos
por delegados de praticamente todos os estados do país e do Distrito Federal.
Considerada uma meta ambiciosa, a Agência Nacional de
Música assumiria um papel institucional que a linguagem ainda não conseguiu
estabelecer no intrincado organograma da política pública nacional, fazendo
frente a um cardápio imenso de demandas históricas que essa cadeia produtiva
almeja justificadamente. Afinal, a música desempenha um papel importantíssimo
no cenário cultural brasileiro, diversificado e abrangente, dos rincões
sertanejos às urbes, protagonizando uma função social insubstituível. É também
uma gigante na economia, com significativa parcela no PIB, se aproximando da mesma
faixa do setor automotivo, segundo levantamento recente que surpreendeu
especialistas.
É, enfim, a música, esse agente transformador dotado
de potencial robusto para ser melhor acolhido no ambiente da política
institucionalizada, por se tratar de uma expressão cultural muito
representativa dos brasileiros, ao lado do futebol emblemático. Sua
singularidade como recurso educativo também se manifesta essencial para o
currículo escolar, demonstrando-se ferramenta didática excepcional para a
formação pessoal.
Munidos desses fatores genéricos e alinhando as
necessidades cotidianas dos milhares de cantores, compositores,
instrumentistas, arranjadores e intérpretes que protagonizam a linha de frente
dessa arte, o FNM encampou essa bandeira como sua principal estratégia na
batalha que vem travando desde que se organizou, há quase vinte anos. Várias
outras lutas já foram pautadas ao longo desse tempo, especialmente nos rumos do
direito autoral e em temas mais polêmicos, como o previdenciário, mas as
conquistas são suadas e exigem dos próprios músicos uma articulação
imprescindível.
As funções e o papel definitivo de um órgão dessa
natureza na estrutura da música produzida aqui estão sendo discutidas e
amadurecidas diante da complexidade que o setor representa, envolvendo os
artistas em si, além de outras instâncias representativas, como sindicatos e associações
da categoria, que precisam lutar em conjunto. É esperado uma contribuição da
sociedade nesse debate, e que se manifestem também as instituições em suas
diversas instâncias, inclusive aquelas que lidam com as pautas do campo musical.
A esse momento também são bem vindas as questões que
envolvem o ofício do músico no país, o papel da linguagem artística no social,
a atual indústria musical (dados/ perspectivas), fonógrafos virtuais, direitos
trabalhistas, fatores econômicos, educativos, espirituais, e até a inteligência
artificial. Por que não?
Nossa música carece com urgência desse tratamento, que
vise sanar de vez com imbróglios como o da OMB (Ordem dos Músicos do Brasil),
autarquia criada no governo de Kubitscheck e logo em seguida sequestrada por temerários
(com os pés dentro da ditadura), o que fez com que a trajetória da entidade
perdesse o seu rumo, e mergulhasse em densas nuvens até hoje. Já há organização
sindical, mas tem baixa representatividade e não possui uma federação
unificada.
São estes e outros pontos que deverão convergir para
uma reflexão e discussão acerca da Música, a que fazemos, à qual nos dedicamos
com ‘ardor’ profissional, que é responsável por uma série de trabalhos diretos
nos palcos, nos estúdios, e indiretamente a outros tantos, nas lojas de música,
nas fábricas de instrumentos, nas vendas dos acessórios, tornando-a uma
potência econômica de grande envergadura.
Há ainda especialmente o valor simbólico, que dá à
música um significado essencial no contexto cultural, sensibilizando a alma
humana, vínculo com a afetividade, de mensagem individualizada a veículo
diplomático, servindo como um elo intrínseco à experiência vivente no planeta
(como Nietzsche já dizia).
Embora se trate de um desafio considerado, a criação
da agência vai mobilizar sua base e argumentar pela adoção de uma política
nacional efetiva para dar conta de cuidar com maior atenção desse bem tão
singular, reconhecido mundialmente. Internamente, ainda será preciso alcançar
um patamar para além do mero aplauso.
No meio do caminho, há um processo político, que exige
a unidade de qualquer categoria.
É grande a missão, mas é enorme o prestígio que a
música dá ao Brasil.
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